17 dezembro, 2009

Lisboa recebe a Red Bull Air Race em 2010 - Ou - A vaca da vizinha dá mais leite do que a minha

Só mesmo neste país mesquinho e provinciano é que toda e qualquer actividade de sucesso é apenas meramente relativa enquanto não se transfere a correr para a capital do império (seja lá o que isso for)... Aí sim, esse sucesso é pleno e pode finalmente brotar em todo o seu esplendor e ser devidamente apreciado pela aristocracia de papelão que se pavoneia e nos entra pelos olhos a dentro sempre que nos distraímos. Se nos distrairmos de mais poderão eventualmente querer entrar-nos por outro lado, embora esse papel esteja mais adequado ao nosso governo. Enfim, são tantos e variados os casos que não há tempo nem paciência para os enunciar mas, muito sinceramente, já mete dó, para não dizer outra coisa. Desde os tempos dos descobrimentos que este país tem um plano inclinado cuja convergência singular é secular e sobejamente conhecida. Ora estes senhores entendem, e muito bem julgo eu, que os pássaros, a título de exemplo, apenas se podem apreciar quando devidamente acondicionados numa gaiola, de preferência de barras douradas e posta sobre a mesa junto à janela de sua casa. Talvez um paninho de renda da avozinha que vive lá no Norte não fique mal por baixo da gaiolita, no caso de não haver a tal janela para por a gaiola reformula-se toda a zona oriental da casa, coloca-se uma bela marquise e um piso flutuante em carvalho francês, maciço claro está, e no final envia-se a conta ao vizinho e já está. Não se incomode o vizinho, poderá usufruir do espaço sempre que quiser. A ideia de apreciar tal bicho noutro local que não esse, pura e simplesmente rouba-lhe todo o encanto, é bom salientar de os especialistas são eles. Quem melhor do que um especialista para saber como se fazem as coisas? Eu respondo, ninguém! Além disso pôr um pé fora de casa só mesmo no Natal e/ou nas férias de verão e aí o destino é o campo ou aliás a província. Para quem não sabe a província é tudo aquilo que ultrapassa o raio dos 20km em torno da gamela. Mais recentemente o território nacional foi presenteado com um deserto, o que me parece bem já que assim conferimos uma ar de Dubai à coisa ( e quem pensa que a seguir vou falar de camelos, desengane-se). Bom, mas feitas as contas revela-se absolutamente necessário alimentar esta nossa pérola para que ela não deixe de brilhar bem lá no alto. É um verdadeiro símbolo de orgulho e unidade nacional que projectamos para o exterior no intuito de fazer ver os "estrangeiros" e procurar que aprendam alguma coisa com este exemplo de união de uma sociedade. De norte a sul do território, todos trabalhamos com um único objectivo, servir em salva de prata as melhores iguarias do país aos senhores que, benza-os deus, tanto se esforçam por combater as desigualdades entre as províncias deste país.

Por vezes julgo sinceramente que voltamos ao colonialismo e à "metropólica" vassalagem de outrora! As colónias (africanas) há muito tempo que foram "abandonadas", mas o feudalismo bafiento e o centralismo déspota desse ninho prevalecem. Encontram o seu caminho no meio da aculturação dos provincianos que com a sua alegre passividade e tacanhez acutilante, carregam estes saltimbancos às costas até aos dias de hoje. Até quando? Pergunto-me. Eu, pela parte que me cabe subscrevo por completo as doutas palavras do Alberto João Jardim que em tempos bradou "...estou-me a cagar para lisboa!". Pois bem, meus senhores e senhoras, eu também!

05 dezembro, 2009

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